PALLADIO

domingo, novembro 23, 2008

O "STAR-SYSTEM"

A seguir faço algumas considerações sobre a contratação do escritório "Super-star" suiço Herzog & de Meuron para o projeto do Palácio da Dança, no terreno da antiga rodoviária no centro de Sampa(que, salvo engano, pertencia à família Frias, proprietária da Folha de São Paulo, o jornal mais reacionário desta cidade).

O Zé Serra, Sátrapa do Estado de São Paulo que escolheu este escritório, está em campanha aberta para a Presidência da República e pretende gastar no “Palácio” cerca de 300 milhões de reais (que já sabemos que se transformarão, durante a obra, em 600 ou 700 milhões) visando a um já mais do que manjado "Efeito Bilbao", em um estado com enormes carências na área habitacional, educacional, de transporte e saúde, com problemas de infra-estrutura e fundiários graves, etc. E além disso, o resultado arquitetônico de tais projetos feitos para a mídia internacional, em geral resultam deploráveis, como o próprio Guggenheim de Bilbao, do Ghery, a casa da música do Porto, do Koolhaas, o arranha-céu de Lomas de Chapultepec, Cidade do México, do mesmo arquiteto, as torres de Milão, do Liebeskind, etc..

Pretende o Governo do Estado pagar ao Herzog & de Meuron 25 milhões de reais pelo projeto, enquanto que a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), por exemplo, paga cerca de 15 mil reais por projeto de escola de segundo grau com 15 salas de aula aos arquitetos tupiniquins, o que não deixa de ser uma gozação com a nossa classe.

Vá lá que um escritório estrangeiro venha trabalhar no Brasil, se houver reciprocidade por parte do seu país, mas é evidente que tem de ser pelos mesmos honorários que o estado paga aos escritórios nacionais.

O responsável pelo andamento deste projeto é o Secretário da Cultura, João Sayad, um banqueiro (ex?) e político, que ajudou a ferrar o Brasil lá atrás, no plano cruzado do Sarney, além de, quando dono do banco SRL S.A., ter participado ativamente da privatização das companhias de eletricidade e do Banespa, aqui em SP. Só no Brasil mesmo: cultura, artes plásticas, bienais, fica tudo na mão de banqueiros. Aliás é muito curioso que gente como o Sayad, o Luna, o Reichstul, o Lara Rezende, o Pérsio Arida, o Edmar Bacha, o Andrea Calabi, entrem no governo como professores universitários e saiam como banqueiros. Engraçado, não?

Para estar no "star system" internacional não é necessário muito talento arquitetônico, mas sim carisma, ambição social e uma boa assessoria de imprensa. O arquiteto catalão Ricardo Bofill, membro deste "Jet-set", disse certa vez que almejava a fama, mas não a do tipo que tiveram Le Corbusier e Walter Gropious, mas sim como a dos Beatles; já Phillip Johnson, ícone maior do estrelismo arquitetônico e primeiro prêmio Pritzker da história, não fazia segredo de sua falta de talento; quando certa vez um interlocutor apontou-lhe um defeito em um dos seus projetos, ele justificou-o explicando candidamente que era um “bad architect”. Pritzker por Pritzker prefiro o Oscar Niemeyer e o Paulo Mendes da Rocha do que o de Meuron.

Aliás, os estudantes de arquitetura devem estar indignados; por que os fazem estudar arquitetura brasileira, arte brasileira, cultura brasileira, se no final das contas contratam um escritório suíço cujos titulares mal devem saber onde fica o Brasil e sua capital, Buenos Aires?

Trata-se enfim, de um provincianismo com objetivos claramente eleitoreiros do Serra, com a escolha do escritório do "Star system" realizado através de uma espécie de concurso realizado dentro de um contexto palaciano, sem um mínimo de transparência e e que constituiu-se em um enorme desrespeito aos arquitetos brasileiros e seus orgãos de classe, que tomaram conhecimento do assunto pela imprensa.

Fato semelhante já ocorreu há alguns anos atás no Rio de Janeiro, quando o governador Cesar Maia contratou outra estrela, o arquiteto francês Jean Nouvel, para projetar a sede do Guggenheim - Rio, também por um valôr de honorários incompatível com a realidade nacional. Neste caso, a união da classe, auxiliada pela pouca qualidade do estudo preliminar apresentado, conseguiu a anulação do contrato com o arquiteto estrangeiro, embora ele já tivesse recebido cerca de dois milhões de dólares pelo estudo apresentado. Espero que em São Paulo, os arquitetos mostrem a mesma disposição e resistência à este conchavo palaciano que a dos seus colegas cariocas no "affair" Guggenheim.