PALLADIO

sexta-feira, março 05, 2010

"GREEN WASH"

Como era previsível há anos, a “ecologia” foi finalmente encampada pelo mercado na forma de “eco products” que agem muito superficialmente sobre os reais problemas referentes à exaustão da natureza (por sua exploração pelo homem) e que visam primordialmente à acumulação de capital decorrente da produção e venda de tais produtos, ancoradas em milionárias campanhas publicitárias destinada aos incautos de boa fé que caem no conto do “green wash” que quer dizer, literalmente, lavagem verde.

Um dos campos mais férteis para a aplicação desta jogada mercadológica é a construção civil, com a mistificação do edifício energeticamente sustentável pela certificação do “ecologicamente correto” através de “selos verdes” conferidos pelos fabricantes de materiais de construção ligados à indústria do “green wash” como o selo do LEED.

O LEED (Leadership in Energy and Enviromental Design) é gerenciado pelo USGBC (United States Green Building Council), agência esta ligada às construtoras e a indústria da construção civil norte-americana; seus interesses não levam em conta aspectos como os de geografia, linguagem e contexto local das arquiteturas sobre as quais pretendem atuar. Por si só, esta agência se constitui em uma enorme hipocrisia em face da posição do governo de seu país nas Conferências Sobre o Meio Ambiente de Manila e Copenhague.

Assim, esta certificação por selos serve às construtoras e incorporadoras como argumento de venda para seus crédulos clientes bem como justificativa para aumentar o custo das construções e consequentemente o lucro. Infelizmente, uma parte dos arquitetos tupiniquins aderiu entusiasticamente ao “Green Wash” ignorando seu impacto sobre os aspectos sociais, culturais e o ambiente urbano onde atuam, além de ignorarem a pobreza e a distribuição de renda do país.

Vemos também, ultimamente, a inclusão acrítica dos conceitos de sustentabilidade nos concursos públicos de arquitetura quando, por um lado, uma arquitetura excessivamente tecnicista feita de painéis foto-voltaicos, invólucros do tipo “pacote” de metal perfurado, caixilharias bizarras, etc., acabarão por nos levar de volta à uma arquitetura historicista e por outro lado ao descarte de tudo que a arquitetura brasileira autêntica tem de naturalmente “energeticamente sustentável” e de adaptação ao nosso clima: o cuidado com a implantação e o entorno, a insolação correta, a proteção solar, a ventilação natural, as áreas verdes sempre presentes (absorção das águas pluviais), o uso adequado de materiais locais, e por aí vai...