PALLADIO

quarta-feira, junho 24, 2009

POLITICAGENS URBANAS

Andam saindo na mídia notícias sobre o Plano Diretor de São Paulo, sobre a reforma bizarra que se pretende na Luz, onde o governo cede à iniciativa privada até o direito de desapropriação de imóveis e sobre a duplicação da marginal, todas revelando o descalabro que são as administrações DEM. e do PSDB do município e do estado de São Paulo.

A revisão do Plano Diretor já era prevista em lei, só que esta determinava ampla consulta e o consequente debate com a população da cidade para legitimizar as alterações que porventura fossem nela (revisão) propostas. Ocorre que o atual alcaide pretendeu fazer as alterações passando por cima da sociedade civil, com o mais do que evidente propósito de beneficiar construtoras e incorporadoras, comprometendo assim um plano que nasceu bom (pelas mãos competentes do Jorge Wilheim) mas que foi desfigurado por modificações feitas na Câmara pelos vereadores à serviço do “lobby” da construção civil.

Outro absurdo desta gestão catastrófica da prefeitura de São Paulo é o projeto “Nova Luz”. Quando os movimentos para a recuperação do centro histórico de São Paulo começaram a aparecer na grande mídia, comecei a temer pela gentrificação (este termo ainda não era usado na época) de um dos pouquíssimos espaços urbanos qualificados ainda usufruídos pela população pobre e a pequena classe média paulistana. Uma transformação elitista do centro, imitando as operações urbanas realizadas nas metrópoles centrais do capitalismo globalizado, só contribuiria para agravar a injustiça e a desigualdade social que são a marca registrada de nossa cidade e do nosso país. E pelo que vejo, é exatamente isto o que está acontecendo sob os governos dos senhores Serra e Kassab.

A vocação do “centrão” como núcleo comercial e como nó de articulação do transporte público (nele existem dois grandes terminais de ônibus urbanos, a interligação de duas linhas do metrô além das estações da CPTM) já está consolidada. Falta reabilitar sua função habitacional com ênfase na habitação popular, pois os ricos já tomaram outros rumos. No local existem centenas de edifícios desocupados do primeiro andar para cima, pois apenas o aluguel das lojas no térreo já compensa a manutenção dos mesmos do jeito que estão. Estes pavimentos abandonados poderiam ser desapropriados a preço de banana e adaptados para moradia de famílias de baixa renda; a localização é ideal, no centro não faltam meios de transporte, empregos, escolas públicas, bibliotecas, parques e praças, etc.. Mas como tal ação não traria nehum benefício às nossas elites brancas (como dizia o ex-governador Claudio Lembo) … Para teminar, um lembrete quanto à demolição indiscriminada de quarteirões inteiros da Luz: até os animais não voltam ao seu local de origem quando vêem que a sua paisagem foi modificada. Entre os homens, a memória de suas cidades não deveria ser jamais um joguete nas mãos de políticos ambiciosos e inescrupulosos.

Quanto a duplicação da marginal, basta um simples olhar sobre as fotografias mostrando árvores sendo derrubadas para darem lugar a mais asfalto para se ter idéia do crime que está sendo cometido nesta cidade contra o meio-ambiente. O transporte individual já deveria ser coisa do passado; enquanto o mundo responsável luta pela recuperação da nossa atmosfera, pela regeneração da natureza, pela sustentabilidade energética, continuamos a criar mais vias de automóveis para termos mais engarrafamentos, mais poluição do ar, menos áreas verdes, etc..