PALLADIO

quarta-feira, maio 20, 2009

MUROS

No Rio de janeiro, sob um duvidoso pretexto ecológico, existe atualmente a proposta, por parte do Estado, de murar-e as favelas nos morros junto às encostas arborizadas, para impedir o seu crescimento sobre a mata. Há preconceito social flagrante nesta proposta, pois não se tomam providências contra condomínios e residências dos ricaços, que estão destruindo a Mata Atlântica e a paisagem costeira do litoral norte de São Paulo, desfigurando irremediávelmente seus costões com mansões de veraneio de luxo, "decks" e marinas. Evidentemente, no caso das favelas, as providências a serem tomadas terão de ser de ordem urbana e social, favorecendo, para as classes de menor poder aquisitivo, o acesso à habitação digna, sabiamente desenhada e bem localizada quanto aos meios de transportes, oportunidades de emprego e qualidade ambiental e da vizinhança.

Ao inverso, aqui em São Paulo são os muros dos condomínios dos ricos que se constituem em problemas públicos da maior gravidade, afetando desde a estrutura social e a convivência entre classes nas áreas urbanas até a relação física adequadamente dimensionada entre as cidades e os campos. Seu paradigma é Alphaville, em Barueri, um aborto urbanístico que já existe há décadas, falsa cidade para uma classe só, onde os pobres só entram como serviçais dos moradores ou como seus seguranças; possui comércio, serviços, administração, colégios e até universidades próprias e se deixarem, creio eu, contará no futuro com um exército particular e uma dúzia de F-15 ou Mirages de segunda mão, para defendê-la da "ralé".

O que acho mais grave nesta estória é que este tipo de ocupação fundiária espalhou-se por todo o estado de São Paulo; não existe mais cidade do interior, grande ou pequena, que não conte com vários destes empreendimentos, de Campinas à Valinhos, de São José dos Campos à Itupeva. O pior é que eles trazem consigo, além do preconceito e da segregação social inerentes à sua organização, problemas urbanos e ambientais tais como a grande extensão dos sistemas viários e de infra-estrutura urbana das cidades (há que atendê-los sempre, afinal abrigam os consumidores ricos), que têm de se estenderem mais e mais para os campos adjacentes. E assim vão estes assentamentos humanos "classe A" invadindo as áreas agriculturáveis e as matas, nativas ou não, que encontram pela frente, espalhando a poluição, o asfalto e a sua negação implícita da urbanidade pelo "hinterland" paulistano antes afeito apenas ao plantio e à colheita dos frutos da terra.

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