PALLADIO

segunda-feira, março 16, 2009

A PARTIDA

Partir.
Partir como destino.
A nau levada pelo vento.
Partir como os bichos, as plantas,
As folhas da Natureza.
Partir como o que foi e não é mais.
Partir como os afortunados:
Os assassinados,
Os suicidas tresloucados,
Os abatidos, os afogados.
Partir, não como transformação,
Partir como um final de ação.

Partir, ir-se embora,
Partir como um ato acabado,
Como um romance já lido,
Como um conto terminado.

Partir, desaparecer,
Partir como uma formiguinha,
Uma flor, uma ave do céu,
Um peixe do mar, sereno.

Partir como quem não sabe
Do porvir, da eternidade.
Partir como quem não conhece
O significado do tempo,
Partir no espaço-tempo de Einstein.

Partir como os que não pensam
Nos que ficarão, os que não recordem
O que deixarão para trás,
Os que não têm quem por eles chorem.

Partir como nascemos para partir
Partir como um recém nascido,
Partir como um feto, um ovo.
Partir como os que não vingaram,
Como os que não vieram a ser,
Que não chegaram a ver
Este sol que reina sobre nós.

Partir como os que viveram tanto
Que não se lembram do que foram.
Partir como os que esqueceram
Antes, na vida, o que são.

Partir como o The Daring Young Man
On the Flying Trapeze,
Partir como Don Fabrízio
No Il Gatopardo do Lampeduza,
Partir como Bob Fosse
Ao final de All That Jazz.

Ou melhor, partir, apenas,
Como quem não tem chão (ou pão),
Morrer como qualquer João,
Sem nenhum sentido,
Sem qualquer razão.