Forma e Construção II
Parece-me que na arquitetura, damos forma à matéria com intenção estética, com o objetivo de construir abrigos para as atividades humanas. Já vimos anteriormente que Mies dizia que "a arquitetura é a arte da construção", ou seja, a forma arquitetônica surge da matéria bruta organizada sabiamente segundo a tecnologia utilizada. Mas o Entendimento da Forma precede a sua materialização, ela é, na arquitetura, uma criação intelectual construída sobre hipóteses previamente apreendidas; mas quero aqui salientar que é preciso cuidado com modelos, as formas (arquitetônicas) da história voltam quase sempre como instrumentos de dominação cultural e política dos povos da periferia do capitalismo, como expressão formal do poder e da riquesa das elites econômicas.
Acho que para entender-se a arquitetura enquanto forma (inerente a construção), é necessário dispor-se de uma experiência anterior elaborada pelo Entendimento; o que é uma casa, uma igreja, um palácio, um hospital. Assim sendo, nossa compreensão da relação entre forma e função é fundalmentalmente empírica. Mas arquitetura não se resume ao trinômio forma-função-construção: ela tem de relacionar-se corretamente com a vizinhança, com a paisagem, ou seja, respeitar a escala do lugar, adequar-se ao clima local, utlilizar com sabedoria a luz, o vento, a tradição construtiva local. A forma tem de ser significativa também em seus aspectos imateriais, arquetípicos, simbólicos, deve saber lidar com o mito, o sagrado e o mágico.
E o formalismo? Como dizia Bernard Huet, "formalismo não é uma questão de forma"; Walter Benjamin ressaltava que "o fascismo é o maior dos formalismos pois ele pratica uma estetização dos anseios da sociedade a fim de mascarar os seus conflitos". É isto aí, o formalismo é a estetização burocrática da arquitetura, a tecnologia utilizada como um fim em si, a mera adequação dos espaços aos preceitos funcionais sem levar em conta suas exigências sociais, a estética do mercantilismo, a redução da vida real a estilos ultrapassados ou alienígenas.
E a Arte? Lúcio Costa citou, em seu livro de memórias, uma ótima definição de Clive Bell (escritor, cunhado de Virgínia Woolf): "Art is a significant form".
(1) Góes, Pedro, Pequeno Dicionário de Filosofia e Ciências, pag. 13.
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