Greve dos Metroviários
Mas o número acima serva de alerta. Pessoalmente não acho que exista solução viária baseada no transporte individual para São Paulo; o automóvel, como agente poluidor, e a infra-estrutura que dele decorre já levaram a cidade ao limite de degradação física suportável. Sua agressão atinge tanto a paisagem urbana, pontilhada de viadutos sempre congestionados, quanto a rural, com a expansão ilimitada dos subúbios sobre o ambiente silvestre.
As grandes metrópoles do mundo, em sua maioria, restringem o uso do automóvel; em Paris a construção de vagas em edifícios novos no centro, é proibida, em Londres paga-se para trafegar pela "City", em Nova Iorque, a classe média nem carro possui, anda de metrô ou ônibus e, para sair da cidade, aluga um veículo pelo tempo necessário.
Mas, se parece tão óbvia a opção pelo transporte coletivo (metrô, ônibus ou mesmo bonde), por que nossos administradores não tomam as medidas cabíveis neste caso? A resposta é simples, temem desagradar as classes média e alta e o "lobby" da industria automobilística, perdendo assim seus preciosos votos e o caixa para as campanhas eleitorais. Mas esta situação não pode perdurar para sempre, uma hora destas haverá de aparecer um governante responsável que lance as bases de uma verdadeira política de transporte urbano que previlegie de maneira insofismável o que é publico em detrimento do que é particular. Passo a enumerar algumas medidas que, em minha opinião, poderiam alterar a atual feição dos meios de transporte da cidade:
1 - Suspender-se qualquer tipo de obra viária que vise favorecer o transporte individual, tais como novas avenidas, túneis e viadutos, pistas extras nas marginais, etc., priorizando-se apenas a construção de corredores de ônibus e taxis. Os engarrafamentos de trânsito causados por esta medida desencorajariam, com certeza, o uso do automóvel. (Esta providência, o engarrafamento induzido de veículos, já é utilizada em países como a Alemanha e a Holanda.
2 - Ampliar-se significativamente a rede de metrô; começamos a construir o de SP ao mesmo tempo do que o da Cidade do México (também metrópole do 3º mundo) e hoje temos cerca de quarenta estações em nossas linhas enquanto que as dos mexicanos contam com mais de duzentas (quanta incompetência vemos aí de nossos políticos e administradores!).
3 - Reestudar-se seriamente a volta do bonde em determinadas regiões da cidade.
4 - Mais prosaicamente, permitir-se o estacionamento em ambos os lados da grande maioria das vias públicas. Tal medida, além de afunilar o trânsito de automóveis, traria maior proteção ao pedestre, pois desta maneira seria formada uma barreira entre este e a rua, com maior segurança, principalmente, para as crianças que brincam nas calçadas. E por falar nisto, precisamos muito, mas muito mesmo, de mais faróis e faixas de pedestres nesta cidade; nela, morrem atropelados mais de dois cidadãos por dia, cerca de oitocentos por ano, um verdadeiro absurdo. Estas faixas deveriam ser no nível das calçadas, tanto para facilitar a travsessia de portadores de deficiência física e idosos quanto a criar uma lombada para que os motoristas diminuissem ali a velocidade de seus veículos e soubessem que nestas faixas o território é tanto do pedestre quanto seu.
5 - O Código de Obras deveria deixar de exigir vagas para estacionamento em edifícios para escritórios e congêneres e até mesmo para comércio e lazer. O Fórum Internacional de Tóquio, para dezenas de milhares de frequentadores, conta com apenas quarenta ou cinquenta vagas para automóveis e em Viena vai-se a Ópera, mesmo de "soirée", de metrô.
6 - A Prefeitura deveria criar mais ruas para pedestres nos centros de bairro e instituir a cobrança de pedágio no centro histórico expandido da cidade. E melhorar de vez as frotas de ônibus, meu Deus, cujas empresas proprietárias formam, como é de conhecimento público, uma verdadeirs máfia que põe nas ruas veículos com quinze anos de idade ou mais.
Estas medidas não precisariam ser implantadas da noite para o dia, mas ao longo dos anos, desde que fundamentadas por uma sólida política de transporte coletivo para Sampa; assim poderíamos derrubar o minhocão e outros viadutos que, definitivamente, não deveriam fazer parte da paisagem urbana de nossa cidade. Rem Koolhaas estava enganado quando escreveu em "Delirious New York" que a cidade européia estava morta e que o futuro seria do modelo norte-americano de metrópoles contínuas (baseado no transporte individual); precisamos de cidades compactas, novamente, devido ao previsivel esgotamento dos recursos naturais (petróleo, água) e o desaparecimento inquietante das áreas agrestes do planeta.
Euclides Oliveira.
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