PALLADIO

quarta-feira, agosto 09, 2006

Sobre a Barra.

Estive no mês passado em um almoço na Barra da Tijuca, RJ, e mais uma vez fiquei chocado com o panorama ao longo da Av. das Américas; ausência de tecido urbano, imensos vazios na paisagem, "shoppings" e comércio com arquitetura de quinta categoria. Cidades assim, lineares, com suas rígidas hierarquias de ruas, tendem a uma ocupação territorialista do solo, com ilhas urbanas acessíveis apenas por vias de alta velocidade. Esta disposição espacial leva, acredito eu, a uma segregação por classes sociais, ficando, desta maneira, as cidades fechadas para a riqueza de contatos humanos próprios da vida urbana tradicional; ao invés deles, o isolamento das quadras favorece a discriminação dos pobres e a criação de "gangs" de adolescentes em territórios demarcados, com o inevitável confronto físico entre os grupos assim formados.

Desconheço até que ponto o projeto do Dr. Lúcio Costa foi obedecido, mas os defeitos e qualidades do plano hoje visíveis são os da "Carta de Atenas" do nosso L.C.. Não podemos culpá-lo pela sua concepção voltada para o transporte individual, pois na época de sua concepção ainda não tinhamos idéia do impacto mortífero que o automóvel causaria nas nossas cidades, na atmosfera, no planeta. Pelo contrário, havia então um "lobby" mundial contra o transporte coletivo, por parte da industria automobilística (o Henry Ford dizia que seu sonho era que cada homem, na terra, possuísse o seu automovel; na China, no Paquistão, na Índia, então, isto seria uma beleza!).

Considero hoje que a Barra da Tijuca deveria ter funcionado para o Rio de Janeiro como o "Quartier de La Defènce" funciona para Paris; um local onde o novo poderia florecer sem desvirtuar a antiga capital. Mas tal fato não aconteceu, acabaram com o velho Rio e construiram (os especuladores imobiliários), na Barra, uma cidade no mínimo de civilidade duvidosa, plena de barreiras urbanísticas e arquitetônicas, além de destruirem sua bela paisagem silvestre.