PALLADIO

sábado, agosto 12, 2006

Ruínas Arquitetônicas

Na França, nos séculos XVIII e XIX, talvez em decorrência dos achados arqueológicos da época,
a ruína arquitetônica passou a ser considerada mais bela do que o próprio monumento intacto, tanto pela aristocracia quanto pela burguesia florescente. Era comum artistas pintarem como ficariam no futuro, arruinados, os edifícios do presente e surgiam às centenas, nos jardins dos bem-aquinhoados, falsas ruínas de mármore de Carrara. Em 1899, o romancista e ensaista francês Joris-Karl Huysman, irritado com a arquitetura do seu século, escreveu sobre a substituição do edifício do Conseil D'Etat por um museu: [...Ateiem fogo ao desagregado desta cansativa montoeira de pedras... em vez de uma terrível caserna terse-ia um palácio romano demolido, uma fantasia de Babel, um esboço de Piranesi, com suas arcadas inacabadas, seus arcos perdidos, suas galerias se dirigindo para o espaço... arquitetura inteiramente de sonho, um pessadelo feito de colunas abruptas, esculpidas com um machado na congestão de um delírio louco... Para embelezar esta horrível Paris dever-se-ia espalhar aqui e ali algumas ruínas, incendiar a Bolsa, a Madeleine, o Ministério da Guerra, a igreja de Saint-Xavier, a Ópera e o Odéon... Passaremos a nos concientizar que o fogo é o artista essencial da nossa época e que, tão podre enquanto crua, a arquitetura do século se tornaria tremenda, quase soberba, quando cozida...]

Ao reler este texto fiquei pensando em quantos edifícios poderiamos "cozinhar" aqui em Sampa para dar uma melhoradinha no visual da cidade... Há tanta arquitetura porcalhona por aí, prédios neoclássicos, pós-modernos, caixas de vidro azul-espelhado, "shopping-centers", a Daslú... Mas não iria adiantar, mesmo queimados pelo fogo não dariam belas ruínas, são ruins demais para tal, melhor mesmo seria implodí-los de vez para voltarem a ser pó.

Euclides Oliveira.