A cidade segundo Pierre Diaz.
[... Os espaços públicos da cidade medieval continham uma dimensão imensurável; a rua, por exemplo, não era apenas um lugar de circulação ao qual a reduziu o urbanismo do século XX. Ela era um espaço de troca, de reunião, de festas, à maneira de um "espaço de contato"...].
Esta expressão é de Françoise Choay para o espaço da cidade medieval, que ela contrapõe à cidade do século XIX, o "espaço do espetáculo", e às aglomerações urbanas (nossas cidades) do século XX, o "espaço da circulação".
[... Esta multifuncionalidade das ruas e praças caracterizam a cidade medieval... ... a Renascença marca uma ruptura na história urbana. No final do século XV, o crescente poderio econômico dos mercadores gera uma mutação profunda no equilíbrio político estrutural vigente. Para sobreviver como classe, a sociedade senhorial e monárquica deveria assumir o controle das cidades aliando-se à sociedade mercantilista. A cidade deveria tornar-se a sede do poder que já fora durante a Antiguidade. De resto, um discurso urbano específico assim surgiu e se desenvolveu. Ele justificaria a criação de novos espaços e edifícios construidos para a glória de reis, duques, condes ou príncipes todo-poderosos da Igreja. A "Arte Urbana" foi então encarregada de construir praças, ruas, perspectivas e outros eventos espaciais nos quais o (seu) uso era praticamente reservado para as classes dominantes; a aristocracia e a burguesia preocupavam-se em espelhar nas suas cidades, a imagem de sua recente riqueza.
Até o século XVIII a morfologia das cidades européias, transformadas pela "Arte Urbana", refletiam esta hierarquia social; são os tempos do "espaço do espetáculo"....]
Os tempos do "espaço da circulação" bem sabemos como começaram; com a industrialização e a migração em massa de camponeses dos campos para as cidades, formando eles uma nova classe, a do proletariado. Mas voltando um pouco atrás, Portugal, quando nos tomou por colônia, não trouxe para cá a nova organização social da Renascença, mas sim o Feudalismo. Os grandes latifúndios de monocultura tinham no senhor de engenho o seu senhor feudal, trocando-se apenas os campônios europeus por escravos vindos da África. As cidades eram meros portos para a exportação do açucar e lugar para a modesta administração colonial. Como observou o professor Nestor Goulart, a verdadeira cidade ficava na metrópole, a relação cidade-campo fazia-se através do oceano Atlântico. Foi apenas com a descoberta do ouro que vilas e cidades foram fundadas por aqui sem a característica de meros entrepostos comerciais, surgindo, finalmente, em nosso país, uma autêntica cultura urbana. Não nos esqueçamos que, ao contrário da América Espanhola, que abrigou civilizações sofisticadas antes do seu "Descobrimento", os povos que habitavam o Brasil ainda pertenciam ao neolítico quando os portugueses por aqui aportaram.
Este assunto dá "pano para manga", voltarei a ele no futuro.
Euclides Oliveira
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home