Declaração de Voto
A falta generalizada, entre os bacanas, de um mínimo de respeito pelo nosso presidente, é uma afronta indesculpável, não admitem eles, ricos e famosos, portadores de diplomas de MBA, serem governados por um torneiro mecânico. A raiva do Serra (que me deu um calote feio em um projeto ganho em concurso público na administração anterior) não é contra a Marta, sua antecessora na Prefeitura, mais sim contra o Lula, pelo fato de ter perdido a eleição presidencial (ele, um PHD, ex-secretário, ex-ministro, ex-senador) para um simples operário. É revoltante ver no Congresso um tampinha, neto de um dos maiores canalhas desta república, o senador Antonio Carlos Magalhães, dizer que iria dar uma "surra" no presidente - um ódio e um desrespeito só explicado pelo preconceito de classe de um "coronelzinho" baiano. Quanto a mídia, duvido que um destes jornais dos Frias ou dos Mesquitas, pais, filhos ou netos, tratassem um presidente de sua classe social da maneira grosseira e arrogante com que tratam o Lula. Imaginem as manchetes e as campanhas intermináveis da "grande" imprensa se estes fatos do governo FHC houvessem ocorrido no governo atual:
- Um filho não reconhecido do presidente mantido em Lisbôa, junto com a mãe, pela rede Globo
- O Proer em geral e o Proer para o banco da nora em particular.
- Os grampos do BNDE
- A CPI dos bancos, barrada no Congresso.
- As bruxarias do câmbio e os bancos FonteCidam e Marka.
- O billhete de Chico Lopes (presidente do BC) para Salvatore Cacciolla (ou vice-versa)
- O bilhete do Chico Lopes para sua esposa sobre os 1,6 milhões de dólares no exterior.
- A prisão do Chico Lopes diante das câmeras de TV.
- O que o Brasil perdeu em divisas mantendo a paridade do dolar para que o FHC pudesse se
reeleger (o BC de Gustavo Franco).
- O sistema Radam e a Raytheon, na Amazônia.
- A surra nos índios nos 500 anos do descobrimento do Brasil, em Porto Seguro (?).
- As privatarias... a inacreditável crise de energia elétrica e os apagões... e por aí vai...
Moral da história: os empresários, capitalistas e milionários em geral podem ter seu caixa dois, venderem sem nota, formarem oligopólios ou mesmo quadrilhas ("lobbys") para corromperem a classe política, sonegarem impostos, subfaturarem importações, subornarem fiscais do governo em geral, combinarem os preços (e o mercado?) entre si, agirem como se a coisa pública fosse de sua propriedade particular, etc. Os pobres, evidentemente, não.
Transcrevo a seguir, por ser apropriado ao assunto, um texto do Prof. Henrique Rattner retirado do seu livro "O Resgate da Utopia", pags. 179 a 182.
[...."Segundo o dicionário de filosofia, ética é a ciência que tem como objeto os juízos de valor que distinguem entre o bem e o mal. Historicamente, moral e ética são tratados como sinônimos, mas, na filosofia alemã, desde Kant, no século do ilumunismo, a ética é considerada superior a moral. A moral é historicamente datada e suas normas e sanções mudam de acordo com a evolução e as transformações da sociedade, sempre refletindo a visão do mundo e o interesse das elites. Eloqüentes a respeito são as manifestações dos senhores escravocratas, dos capitalistas e tecnocratas, cujo discurso e prática, supostamente racionais e ideologicamente neutros, justificariam a pobreza e a desigualdade. Teorias "científicas" quando não doutrinas religiosas são invocadas ("a seleção natural dos mais aptos" ou as "leis de mercado") para determinar o código de conduta moral dos indivíduos e as sanções positivas ou negativas atinentes ao seu cumprimento ou transgressão. A ética postula um código de conduta para o grupo ou a comunidade de indivíduos que exige um comportamento baseado em valores. Para Hegel, a moral seria o domínio das intenções subjetivas, enquanto a ética seria o reino da moralidade absoluta".....]
[.... "A ética está fundamentada em valores de alcance universal - a conquista da felicidade e do bem-estar por meio da liberdade. Suas manifestações concretas são a cooperação e a solidariedade numa organização pluralista e de democracia participativa. A ética se refere a um devir, uma visão do futuro da humanidade que se pretende realizável. É o projeto do futuro - a utopia - que tem inspirado os pensadores libertários, desde Thomas More, os precursores do socialismo utópico (Fourier, Saint-Simon e R. Owen) até os defensores do socialismo "científico", baseado no materialismo dialético"....]
[..."Devido à concentração de capital e poder, as relações sociais continuam sendo autoritárias, impedindo a voz e vez às populações carentes.......Os efeitos sociais e culturais do funcionamento do sistema são desestruturadores: a corrida por competitividade e acumulação sufoca os valores de cooperação e solidariedade e reprime as manifestações de identidade cultural. Finalmente, o sistema é autodestrutivo em sua dinâmica: seu avanço está baseado na depredação do meio ambiente, o que mina a própria existência e sobrevivência da população, ignorando ou desprezando os direitos das gerações futuras"....]
[.... "Percebe-se, portanto, o esgotamento do paradigma de desenvolvimento capitalista, cuja natureza centralizadora e autoritária inviabiliza a evolução pacífica para um convívio democrático e solidário. Negamos legitimidade aos objetivos e prioridades economicistas, impostos pela lógica e o moral da globalização econômica-financeira. Conclamamos por uma construção de uma perspectiva social, democrática e sustentável que promova a liberdade e a dignidade humana. Enfim, um projeto do futuro, a utopia da transformação ética e cultural da humanidade como um todo.".....]
Trotsky costumava dizer que, por mais insignificante ou pequeno que fosse nosso papel na história, tínhamos de escolher um lado, um caminho. Eu escolhi o meu; vou votar no Luis Inácio Lula da Silva.
Euclides Oliveira.
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