Arquitetura Seletiva.
Paul Rudolph tem razão (devia estar pensando no edifício Seagram ou na casa Farnsworth); em Mies, insolação, conforto térmico, privacidade não são resolvidos - mas a lista de arquitetos que assim agem ou agiram é imensa: Philip Jhonson, Gordon Bunshaft, Craig Elwood, os Populistas em geral , L.C. , Oscar Niemeyer, Tadao Ando, Richard Meyer, Jean Nouvel, os imitadores de Mies do International Style, etc.. Outro aspecto que nos chama a atenção nas contruções de muitos mestres é a temporalidade dos edifícios, existe uma maneira ou um descaso de fazer-se um tipo de arquitetura que não assimila o tempo, não envelhece bem; são feitos, como nota Kenneth Frampton, para serem fotografados quando concluídos e ainda não utilizados, para depois desaparecerem na história.
Seria então um fator determinante da boa arquitetura este sacrifício deliberado de alguns aspectos funcionais ou construtivos das edificações que criassem obstáculos à tipologia tectônica pretendida? Acho que não, creio que é possível uma arquitetura livre da especulação imobiliária e do mercado, que se relacione bem com a paisagem urbana, o clima e a tradição construtiva local, adequada ao que pretende ser, "modesta", ligada à vida real; e enfrentar a realidade é, seguramente, uma maneira de se escapar do formalismo barato e do monumentalismo de opereta.
O real também é o uso das tecnologias disponíveis, a serem escolhidas com discernimento e sabedoria... Aqui nunca é demais repetir um texto de Gaetano Pesce sobre o assunto, publicado na Domus 768:
[... quando irão os arquitetos convencer-se de que a superação autêntica do Movimento Moderno ocorrerá não apenas através da identificação de novas linguagens arquitetônicas, mas também com a ocorrência de novas tecnologias e o uso de novos materiais de construção? Mas de que maneira isto acontecerá? Por enquanto, certamente não com técnicas que exijam mão de obra sofisticada. No mundo atual a maioria dos trabalhadores não é especializada, mas estes tem o direito de procurar os meios necessários a sua sobrevivência, em troca de sua força de trabalho pouco treinada. Nesta situação, cabe aos arquitetos produzirem projetos que não impliquem em detalhes e execução difíceis. Na verdade eu poderia dizer que nossos projetos deveriam prever métodos construtivos que, mesmo quando "mal-feitos", continuassem a ser altamente expressivos ao mesmo tempo que testemunhassem a realidade sócio-econômica-cultural do nosso tempo.... ]
Notem que este trecho não foi escrito por um arquiteto esquerdista do terceiro mundo (como seria previsível), mas por um sofisticado profissional italiano, membro do "Star-System" internacional, com projetos espalhados desde os EUA , America Latina e Europa até a Ásia.
Euclides Oliveira.
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