PALLADIO

segunda-feira, setembro 25, 2006

Arquitetura Seletiva.

O arquiteto Paul Rudolph, da velha guarda norte-americana, fez, há algum tempo, a seguinte observação sobre a arquitetura do século passado: [... Não se pode resolver todos os problemas da arquitetura simultâneamente... É uma característica do século XX o fato de que os arquitetos são altamente seletivos ao determinar quais são os problemas que querem resolver. Mies (van Der Rohe), por exemplo, fez edifícios maravilhosos por que ignorou muitos aspectos do uso de um edifício. Se ele resolvesse mais problemas, sua arquitetura seria muito menos potente... ]

Paul Rudolph tem razão (devia estar pensando no edifício Seagram ou na casa Farnsworth); em Mies, insolação, conforto térmico, privacidade não são resolvidos - mas a lista de arquitetos que assim agem ou agiram é imensa: Philip Jhonson, Gordon Bunshaft, Craig Elwood, os Populistas em geral , L.C. , Oscar Niemeyer, Tadao Ando, Richard Meyer, Jean Nouvel, os imitadores de Mies do International Style, etc.. Outro aspecto que nos chama a atenção nas contruções de muitos mestres é a temporalidade dos edifícios, existe uma maneira ou um descaso de fazer-se um tipo de arquitetura que não assimila o tempo, não envelhece bem; são feitos, como nota Kenneth Frampton, para serem fotografados quando concluídos e ainda não utilizados, para depois desaparecerem na história.

Seria então um fator determinante da boa arquitetura este sacrifício deliberado de alguns aspectos funcionais ou construtivos das edificações que criassem obstáculos à tipologia tectônica pretendida? Acho que não, creio que é possível uma arquitetura livre da especulação imobiliária e do mercado, que se relacione bem com a paisagem urbana, o clima e a tradição construtiva local, adequada ao que pretende ser, "modesta", ligada à vida real; e enfrentar a realidade é, seguramente, uma maneira de se escapar do formalismo barato e do monumentalismo de opereta.

O real também é o uso das tecnologias disponíveis, a serem escolhidas com discernimento e sabedoria... Aqui nunca é demais repetir um texto de Gaetano Pesce sobre o assunto, publicado na Domus 768:

[... quando irão os arquitetos convencer-se de que a superação autêntica do Movimento Moderno ocorrerá não apenas através da identificação de novas linguagens arquitetônicas, mas também com a ocorrência de novas tecnologias e o uso de novos materiais de construção? Mas de que maneira isto acontecerá? Por enquanto, certamente não com técnicas que exijam mão de obra sofisticada. No mundo atual a maioria dos trabalhadores não é especializada, mas estes tem o direito de procurar os meios necessários a sua sobrevivência, em troca de sua força de trabalho pouco treinada. Nesta situação, cabe aos arquitetos produzirem projetos que não impliquem em detalhes e execução difíceis. Na verdade eu poderia dizer que nossos projetos deveriam prever métodos construtivos que, mesmo quando "mal-feitos", continuassem a ser altamente expressivos ao mesmo tempo que testemunhassem a realidade sócio-econômica-cultural do nosso tempo.... ]

Notem que este trecho não foi escrito por um arquiteto esquerdista do terceiro mundo (como seria previsível), mas por um sofisticado profissional italiano, membro do "Star-System" internacional, com projetos espalhados desde os EUA , America Latina e Europa até a Ásia.

Euclides Oliveira.