PALLADIO

segunda-feira, novembro 06, 2006

Engels e a Natureza

Acontece nesta semana em Nairobi (Quênia) a 2ª Reunião das Partes do Tratado de Kyoto (COP/MOP2) em conjunto com 12ª Reunião das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 12 UNFCCC), para discutir o agravamento das condições ambientais no planeta. Embora denunciada pela ONG Greenpeace e até pelo ex-candidato do Partido Democrata a presidente dos EUA, Al Gore, não precisamos ler seus relatórios para avaliar a gravidade da situação presente; pela mídia pudemos acompanhar as mutações climáticas dos últimos anos, a seca na Amazônia, e no Rio Grande do Sul, chuvas excepcionais no cerrado, furacões e verões rigorosos no hemisfério Norte, alterações das quatro estações, diminuição das calotas polares, etc.. E com tudo isto a América do Norte, presidida por George Bush, recusa-se a assinar o Protocolo de Kyoto, apesar de ser ela o maior agente poluidor da Terra.

Neste caso, podemos dizer que não foi por falta de aviso que se armou a catástrofe ambiental que vem por aí: cito, como exemplo, um artigo de Friedrich Engels (1820/1895 – filósofo alemão, colaborador de Karl Marx) escrito no ano de 1876, no qual ele se afasta um pouco da análise da exploração do homem pelo homem para dissertar sobre a exploração da natureza pelo homem:

[... Contudo, não nos deixemos contaminar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma destas vitórias a natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências destas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e terceiro lugar aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com freqüência, anulam as primeiras. Os homens que na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor devastavam os bosques para obter terra de cultivo nem sequer podiam imaginar que, eliminando com os bosques os centros de acumulação e reserva de umidade, estavam assentando a base da atual aridez dessas terras. Os italianos dos Alpes, que destruíram nas encostas meridionais os bosques de pinheiros, conservados com tanto carinho nas encostas setentrionais, não tinham idéia de que com isso destruíam as raízes da indústria de laticínios em sua região; e muito menos podiam prever que, procedendo desse modo, deixavam a maior parte do ano secas as suas fontes de montanha, com o que não lhes permitiam, chegado o período das chuvas, despejarem com maior fúria suas torrentes sobre a planície. Os que difundiram a batata na Europa não sabiam que com esse tubérculo farináceo difundiam por sua vez a escrofulose. Assim, a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio...].

Belas palavras, Engels dixit fazem já cento e trinta anos...

Euclides Oliveira

1 Comments:

  • Quica,

    Que beleza, onde você foi desencavar isto?
    Muito bacana, e que visão...
    beijos

    Rosa

    By Anonymous Anónimo, at 10:54 da manhã  

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