PALLADIO

sexta-feira, junho 08, 2007

DE VOLTA AO PASSADO

O passado deixa um rastro
Que como caçadores seguimos
Atrás daqueles que nos amaram
E dos que nós amamos,
Dos duendes dos jardins,
Das risadas infantis,
Da turminha do colégio,
Da primeira namorada.
São pegadas de fantasmas
Que buscamos, fragmentos,
Ecos do que foi e morreu,
Sinais do que aconteceu.

Seguimos esta trilha longa e mítica
Onde o real é apenas parte
Do que reencontramos nesta volta
Em que as lembranças, às vezes,
São como pequenas cenas
Iluminadas, de um teatro de marionetes,
Onde fantoches representam o que passou.

E são lembranças tão antigas...
Um pátio, uma voz,
Uma laranja na mão,
O colar da mãe – o de contas nacaradas!
Os brinquedos no chão,
Um flamboyant em flor,
Costelas de Adão.


E os odores, o cheiro
Do café com leite,
Da manteiga (Aviação), do pão...
Bolachas Maria! Biscoitos de maisena!
Goiabada marca Peixe com queijo Palmira!
E os sons da manhã, sabiás
Bem-te-vis, rolinhas, tico-ticos

- Minha toalha é de renda de bico
Pega a laranja do chão, tico-tico.

O peixeiro abria o portão,
Cesto de vime na cabeça,
Ia até a porta da copa:
- “Peixe fresco freguesa”!
O tripeiro vinha de triciclo.
Mostrava sua mercadoria;
Fígados de boi, dobradinhas, rins,
Que minha avó fazia no espeto
Com toucinho e molho de vinho.

E tinha o bonde, circular
Gávea- Leme, que pontuava
Com sua presença o rolar das horas;
Tinha o “Taioba” do Seu Militão,
Motorneiro alegre que passava acenando
Para os moleques que gritavam o seu nome.

Na Adolfo Lutz as brincadeiras
Iam até o final da tarde, pique,
Jogo de amarelinha nas calçadas,
Bola de gude no quintal da Dona Aurora
E a pelada (com bola de couro!) disputada
No asfalto ardente; depois, o banho,
Roupinha limpa e ver a noite chegar
Enquanto se esperava o jantar.

As noites da Gávea eram frescas
Com a montanha e a floresta ao lado;
Morcegos voejavam nos pés de abil,
Gambás rondavam os quintais,
Os cachorros latiam na escuridão.
Tudo mudava então:
Corredores ensolarados transformavam-se
Em túneis tenebrosos, atrás do portão
A rua solitária e silenciosa
Iluminada por um único lampião.

Portas eram então trancadas,
Janelas cerradas,
As casas e as famílias fechavam-se
Sobre si mesmas e passavam
A noite em sua espera tranqüila
Do sol, que nasceria
Dos lados do Corcovado,
Atrás do Redentor.