PALLADIO

sexta-feira, maio 11, 2007

Emílio Ambasz

Traduzo a seguir, uma entrevista do arquiteto Emílio Ambasz à revista Domus em maio de oitenta e nove.

“Desde o começo deste século (XX) existe uma preocupação geral em criar-se um novo tipo de arquitetura. A premissa ideológica era de que um novo homem estaria surgindo das páginas da história, um homem liberto das divisões de classe tradicionais. Para ele seria necessário um novo sistema de propriedade, de classe social e, portanto haveria de surgir um novo tipo de arquitetura.

Por cinqüenta anos a arquitetura moderna procurou não ter nenhum tipo de relação com a sua história. Então, nós percebemos que havia ali um preconceito intelectual, que perdêramos um imenso tesouro de experiência arquitetônica. Arquitetos profissionais responderam a esta questão voltando-se para livros de arquitetura do passado como referência. Os chamados “pós-modernos” são, na maioria dos casos, pessoas muito acadêmicas, ávidas por citações de pés de página e uma metodologia escolástica sem defeitos. Eles têm medo de inventarem ornamentos, pois têm medo de inventarem imagens.

O nosso período histórico é o único que, ao invés de criar imagens adequadas para representar seus mitos, desenvolveu uma metodologia para gerar uma infinidade de imagens. Assim, a imagem que melhor representaria o nosso período seria o próprio método por meio do qual tais imagens seriam geradas – algo como a fórmula de Sol LeWitt* para criar imagens sem uma delimitação definitiva. E assim, nós temos arquitetura sendo ensinada como uma metodologia para criar imagens arquitetônicas sem crítica de valores. Não me espanta como é difícil para indivíduos, em nossa cultura, criar imagens definitivas; isto implicaria em fazer-se um juízo de valor.

Muitos de meus trabalhos enfatizam as preocupações clássicas da arquitetura, como a presença da luz, o som das águas, o agenciamento das perspectivas e o uso humanizado do espaço para gerar sentimentos de segurança e esperança. Não sou contrário aos esforços para mantermos um “continuum” com a história, nem sou contra a procura da ornamentação. Eu acredito na invenção do ornamento quando ele provêm do uso de materiais naturais, quando ele é intrínseco a estrutura do que está sendo construído. Eu o valorizo como continuidade de um processo de inovação, não de recuperação. Arquitetos que se voltam para fontes históricas apenas para utilizarem-se de elementos que tenham significado para si próprios, acabam utilizando-se de uma linguagem hermética, acessível apenas para os que nela se iniciem. Você pode proceder desta maneira se insistir em viver dentro de um convento, mas não conseguirá resolver problemas reais tais como habitação recortando pequenos portais e cornijas e colando-os nas fachadas para exprimir um desejo de modulação.


* -Sol LeWitt - artista minimalista norte-americano já falecido.