PALLADIO

domingo, dezembro 03, 2006

Por que a arquitetura de São Paulo é tão ruim?

Se temos bons arquitetos, por que a arquitetura da cidade de São Paulo é, de uma maneira geral, tão ruim? A resposta é o primitivismo do mercado imobiliário e a falta de cultura de nossas classes dominantes e “formadoras de opinião”. Algumas faculdades de arquitetura (umas três ou quatro) bem que tentam formar profissionais capazes de ir contra a “marquetagem” e o mau gosto vigentes, mas estes, pela selvageria da competição por trabalho existente no mercado, acabam por se diluir na mediocridade geral que é a face da produção arquitetônica atual.

Na década de 70 do século passado, imperavam nos edifícios para habitação multifamiliar os estilos neoclássico, “mediterrâneo” e neocolonial, além de um ecletismo de origem indecifrável nas habitações unifamiliares. Os projetos contratados com bons profissionais contavam-se nos dedos e até uma construtora mais progressista, a Forma e Espaço, encomendou projetos padrão, para serem repetidos “ad aeternum” a dois excelentes arquitetos paulistanos, não deixando de lado a visão de que projeto é um requinte ou, pelo menos, não necessário para cada edifício específico. Um desperdício.

Nas décadas de 80 e 90, corretores e marqueteiros assumiram de vez a direção da produção arquitetônica massificada, gerando estas centenas e centenas de monstrengos que enfeiam a cidade; é a “vontade do mercado”.
Eu me pergunto, as vezes, onde estão os edifícios habitacionais e comerciais projetados por Paulo Mendes da Rocha, Joaquim Guedes, Eduardo de Almeida, Jerônimo Bonilha, Décio Tozzi, Marcelo Ferraz, Ângelo Bucci e tantos e tantos outros? Devem existir alguns, mas muito poucos diante do inferno visual que nos assalta todos os dias aos sairmos às ruas desta cidade.

Se não podemos ter boa arquitetura, pelo menos deveríamos ter alguma ordem tectônica em São Paulo, mas não, quase tudo é permitido e aprovado pela administração municipal, inclusive a apropriação freqüente do espaço público por particulares. Moramos em edifícios cujas fachadas ou são como que embalagens de produtos à venda ou beiram o ridículo estético e a mediocridade absoluta e não temos, ao menos, a opção de espaços públicos agradáveis (com raríssimas e superlotadas exceções) para freqüentar, de ruas que formem um local que não sirva apenas para o engarrafamento do trânsito, de uma arborização urbana que traga de volta o canto das aves.

Como modificar isto? Sinceramente não sei; sinto que passamos por um processo histórico que, aliado à falta de educação de nossas elites econômicas, produz a realidade estética que está aí, diante de nossos olhos.
Educar ajuda; mas com a proliferação de faculdades de arquitetura que houve nas últimas décadas as coisas ficam bem mais difíceis. È isto aí.

Euclides Oliveira.

3 Comments:

  • ... parece piada mas o crime será pior, se as gerações futuras acharem que a produção da arquitetura paulista, desta nossa geração, forem esses megaempreendimentos da "Neoqualquercoisa"

    By Anonymous Anónimo, at 12:04 da manhã  

  • Acho que a culpa de muitas construções em si serem precarias, se não pessimas,compete ao proprio mercado, mas ao mesmo do que a falta de uma melhor orientação as pessoas leigas, onde se cria uma mera ilusão que "pessoas comuns" sem muito conhecimento, que nem chegaram a cursar uma faculdade ou mesmo fez um curso especifico para tal empreendimento pois o que também seria verdade já que o mercado é um dos maiores culpado em má formação de "profissionais" porque há tantas revistas e cursos que fazem promessa de profissionalizar a mão de obra, que faz um simples pedreiro achar que esta apto tanto quanto a um arquiteto, projetista, decorador que teviveram que se profissionalizar na profissião a muito custo e são aptos a responder e assinar uma obra civil, coisa que este pedreiro não pode fazer porque não é reconhecido de forma legalfazer uma faculdade, pos graduação e se formou apos muito custo e responde por isso torna-se

    By Anonymous Anónimo, at 2:46 da tarde  

  • A questão maior está na faixa de lucro dos empreendimentos imobiliarios...exorbitantemente explorada no preço final e paga pelos consumidores. Estes, são tratados como consumidores cativos, numa gritante contradição de um sistema de livre mercado. O mercado imobiliario, nas mãos dos que detém o capital - ou que têm acesso ao capital, via benesses de financiamentos publicos, entre outras possibilidades de lançamentos de imoveis novos com pagamentos antecipados pelos proprios compradores, os quais financiam a obra e pagam juros de financiamento para os bancos - subjuga os consumidores. Subjuga pela dificuldade dos cidadãos de terem acesso às aprovações na prefeitura e estado, com uma barreira criada por dificuldades e venda de facilidades. Subjuga pela falta de opção no mercado para as necessidades dos consumidores, ficando com uma redução de oções, semelhante aos procedimentos das empresas globalizadas. Subjuga pela comercialização, utilizando-se da midia para a divulgação, assim como pelos programas de governo à qual tem acesso, quase que de forma privilegiada.
    Os lucros exacerbados do negocio imobiliário é altamente negativo para os arquitetos, uma vez que permite a muitos amadores exercerem a atividade como curiosos, que em casos de perdas por incompetencia significa apenas redução da faixa de lucro. Caso os lucros forem menores, como em paises desenvolvidos, certamente afastaria os amadores do negocio imobiliario pois os prejuizos seriam inevitáveis. Isso levaria o mercado a buscar maior profissionalidade, com pessoal tecnico mais eficiente e que minimizem as improvizações e desperdicios.

    By Blogger Unknown, at 10:23 da manhã  

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