PALLADIO

sexta-feira, outubro 17, 2008

BERLIM

Por Paul Krugman
Tradução de E.O.


Está certo, eu sei que nos dias de hoje supõe-se que você deva observar o futuro olhando para a China, ou para a Índia, nunca para o coração da “velha Europa”.

Mas estamos vivendo em um mundo no qual os preços do petróleo estão batendo recorde sobre recorde e no qual a idéia de que a sua produção em breve atingirá o limite máximo, está se tornando uma certeza absoluta. E os europeus, que conquistaram um alto padrão de vida apesar dos altos custos da energia – na Alemanha a gasolina custa mais de US$ 18,00 o galão – têm muito a nos ensinar sobre como lidar com este novo mundo.

Se o exemplo da Europa for um caminho válido, aqui estão dois segredos de como conviver com o petróleo caro: possuir carros econômicos e não utilizá-los em demasia.

Reparem que eu disse que os carros deveriam ter baixo consumo de combustível – não que as pessoas deveriam dispensar o automóvel. Na Alemanha, como nos Estados Unidos, a grande maioria das famílias possui carros (apesar de que os lares alemães provavelmente possuam menos carros extras que os americanos).

O automóvel alemão usa, em média, cerca de 25 por cento de gasolina a menos que um similar americano. Certamente os alemães não dirigem miniaturas de brinquedo, mas usam veículos de passageiros de tamanho modesto ao invés de “vans” esportivas e caminhonetes.

Em um futuro próximo eu espero que vejamos os americanos seguirem o mesmo caminho. Já o fizemos antes; nas décadas de 70 e 80 a quilometragem média dos veículos de passageiros dos EUA cresceu cerca de 50 por cento, quando os americanos optaram por carros menores e mais leves.

Este progresso foi freado pela ascensão das “vans” durante a época da gasolina barata dos anos 90. Mas agora que a gasolina está mais cara do que nunca, mesmo levando em conta a inflação, nós podemos esperar que a quilometragem dos carros volte a melhorar.

Certamente os próximos anos serão duros para as famílias que compraram veículos grandes quando a gasolina era barata, e que agora descobriram que possuem elefantes brancos com baixo valor de troca. Mas aumentarmos a eficiência com relação ao consumo de combustível é algo que podemos e iremos fazer.

Para entenderem sobre o que estou falando, considerem onde estou no momento; em um agradável bairro de classe média, constituído basicamente por prédios de apartamentos de quatro ou cinco pavimentos, contando com fácil acesso por transporte público e com comércio local bastante variado.

Este é o tipo de vizinhança em que seus moradores não precisam dirigir muito, mas também é um tipo de vizinhança bem raro na América, mesmo nas grandes áreas metropolitanas. A Grande Atlanta tem aproximadamente a mesma população que a Grande Berlim – mas Berlim é uma cidade de bondes, ônibus e bicicletas e Atlanta é uma cidade de carros, carros e carros.

Em face da elevação dos preços do petróleo, o que deixou muitos americanos isolados nos subúrbios – completamente dependentes dos seus carros e, no entanto, tendo dificuldades para abastecê-los – começa a parecer que Berlim teve a melhor idéia.

Mudar a geografia das áreas metropolitanas americanas será difícil. Por uma única razão: casas duram muito mais do que carros. Muito tempo após as atuais “vans” tornarem-se objeto de colecionadores de antiguidades, milhões de pessoas estarão ainda vivendo em casas que foram construídas quando a gasolina custava US$ 1,50 ou menos o galão.

Podemos dirigir menos? – Sim – mas chegar lá será mais difícil.

Correm por aí, nas últimas semanas, muitas estórias sobre americanos que estão trocando o seu comportamento devido ao custo da gasolina – eles estão tentando fazer suas compras em seus próprios bairros, cancelando férias que impliquem em muitos quilômetros rodados e eles estão tentando usar o transporte público.

Mas nada, porém, em grandes quantidades. Por exemplo, alguns dos grandes sistemas de transportes públicos estão animados por que ganharam de 5 a 10 por cento de passageiros por viagem. Acontece que menos de 5 por cento dos americanos usam transporte público para se deslocarem para o trabalho, portanto este aumento de passageiros tira apenas um punhado de motoristas das ruas.

Qualquer mudança mais significativa nos hábitos de locomoção dos americanos irá requerer bem mais do que isto: significará mudarmos onde e como muitos de nós habitamos.

Infra-estrutura é outro problema. Transporte público, particularmente, é um círculo vicioso: é difícil de justificar sistemas de transporte público sem que haja uma densidade populacional correspondente e ao mesmo tempo é difícil convencer as pessoas a morarem em bairros a serem densamente povoados, a não ser que eles já venham com o transporte fácil.

E ainda há, como sempre na América, os problemas de raça e de classe social. Apesar da renovação urbana ocorrida em algumas zonas centrais e da queda generalizada das taxas de criminalidade no país, será difícil mudar a associação que o americano comum ainda faz entre altas densidades populacionais e a pobreza e o perigo pessoal.

Ainda assim, se nós estamos nos encaminhando para uma era prolongada de petróleo caro e difícil, os americanos serão confrontados com motivos cada vez mais fortes para que comecem a viver como os europeus o fazem – talvez não para hoje, talvez não para amanhã, mas certamente para em breve e pelo resto de nossas vidas.