SOBRE MINHOCÕES...
Relembrando o passado, quantas vezes não fiz grandes programas noturnos na Amaral Gurgel, na época "pré-minhocão", indo ao teatro (o Paiol?) e depois jantando no La Cocagne! Depois de sua construção nunca mais andei por aquelas bandas, a região tornou-se um dos espaços mais anti-urbanos, poluídos e perigosos da cidade.
Como não canso de repetir, não acho que haja solução viária baseada no transporte individual para São Paulo; o automóvel e sua infra-estrutura necessária já levaram a cidade ao limite da degradação urbana suportável. É ele, igualmente, o responsável pela invasão contínua das áreas rurais e silvestres adjacentes a nossa metrópole, por loteamentos suburbanos e condomínios fechados que destroem a boa relação espacial cidade-campo e levam consigo a poluição do ar e a decadência ambiental. Não nos esqueçamos que a nossa atmosfera não suportará, por muito tempo, a atual emissão de gazes e que o nosso próprio futuro neste planeta está ameaçado pela destruição desmedida da natureza pelo homem.
Mas, se parece tão óbvia a opção pelo transporte coletivo (metrô, ônibus e mesmo bonde), por que nossos administradores públicos não tomam as medidas cabíveis neste caso? A resposta é simples, temem desagradar a classe média e a alta (e o lobby da indústria automobilística), perdendo assim seus preciosos votos; mas esta situação não pode perdurar para sempre, uma hora haverá de aparecer um governante responsável que lance as bases de uma verdadeira política de transporte urbano que privilegie de maneira insofismável o que é público em detrimento do que é particular. Passo a enumerar algumas medidas que me ocorrem, que poderiam alterar a atual feição dos meios de transporte na cidade:
1 – Suspender-se qualquer tipo de obra viária que vise favorecer o transporte individual, tais como novas avenidas, túneis e viadutos, pistas extras nas marginais, etc., priorizando-se apenas a construção de corredores de ônibus. Os engarrafamentos de trânsito causados por esta medida desencorajariam, com certeza, o uso do automóvel. Um rodízio mais severo do que o atual também poderia ser útil, no caso.
2 – Ampliar-se significativamente a rede do metrô; começamos a construir o nosso ao mesmo tempo do que o da Cidade do México (também metrópole de 3º mundo) e hoje temos cerca de quarenta estações em nossas linhas enquanto que as dos mexicanos contam com mais de duzentas (que vergonha!). Acho, inclusive, que o Governo Federal, e não apenas o Estadual e o Municipal deveriam prover recursos para a ampliação das redes de metrô das principais metrópoles do país e sua integração com as ferrovias suburbanas.
3 – Reestudar-se à sério a volta do uso do bonde em determinadas regiões da cidade.
4 – Mais prosaicamente, permitir-se o estacionamento de veículos em ambos os lados das vias públicas. Tal medida, além de afunilar o trânsito de automóveis (desejável), traria maior proteção ao pedestre nas calçadas, pois desta maneira seria formada uma barreira física entre este e a rua. E por falar nisto, precisamos muito, mas muito mesmo, de mais faróis e faixas de pedestres nesta cidade; nela, morrem atropelados mais de dois cidadãos por dia, cerca de oitocentos por ano, trata-se de algo inadmissível.
5 – Os Códigos de Obras deveriam deixar de exigir vagas para estacionamento em edifícios para escritórios e congêneres e até mesmo para o comércio e lazer; construiriam garagens apenas os que assim o desejassem. O Fórum Internacional de Tóquio, para dezenas de milhares de freqüentadores, conta com apenas quarenta vagas para automóveis e em Viena vai-se a Ópera de metrô.
6 – Criarem-se mais ruas de pedestres nos centros de bairro e instituir-se a cobrança de pedágio para o veículo individual no centro histórico da cidade. E melhorarem-se de vez as frotas de ônibus, meu Deus, cujas empresas proprietárias se constituem como é de conhecimento público, em uma verdadeira máfia, que põe na rua veículos com quinze anos de idade ou mais.
Estas medidas não precisariam ser implantadas do dia para a noite, mas ao longo dos anos, desde que fundamentadas por uma sólida política de transporte coletivo para a cidade de São Paulo. Assim poderíamos derrubar o minhocão e outros viadutos que, definitivamente, não deveriam fazer parte da nossa paisagem urbana; por outro lado, tentaríamos substituir algumas das pontes medonhas que existem hoje sobre os rios Tietê e Pinheiros, por "obras de arte" sabiamente projetadas... Algo como menos Santiago Calatrava e mais Robert Maillart...
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