PALLADIO

sexta-feira, setembro 19, 2008

THE UNDISCOVER'D COUNTRY

Mãe, como foi o teu morrer?
Percebeste, em teu sono,
O momento do trespasse?
Sonhavas? Sonhaste muito
Enquanto dormias sedada
Naquele triste hospital na montanha?
No teu último instante
Viste uma luz brilhante
Ou tua consciência
Apagou-se e nada mais?
Por onde andará tua alma?
Ou não tinhas alma e tudo acabou?

Mãe, como foi o teu morrer?
Tiveste frio, tiveste medo,
Tiveste um frêmito, um espasmo,
Ou suavemente tua vida cessou?
Sentiste a vertigem de saltar no abismo
Ou a paz de um beduíno ao entrar no deserto?
Tu não querias mais acordar, mãe,
O que seria o que te prendia
Naquele pré-espaço da morte?
Clamaste por ela, quiseste ela?
Não ouviste os apelos dos teus?
Já não pertencias ao mundo dos vivos?

Mãe, como foi o teu morrer?
Simplesmente se morre e é só?
Com o que tu sonhavas
Quando chegou o teu último instante?
Sonhaste com o que passou?
Com teu passado tão longo,
Com teu presente de dor?
Sofreste? Sentiste saudade, amor,
Pelos que ficavam tão longe
Mesmo ao lado de ti?
Alguém veio te buscar,
Ou foste só para o nada?

Mãe, conta-me como morrer
Se puderes, pois minha moléstia
Continua retornando, reciclando-se
Como uma nódoa venenosa, em mim,
Preciso, necessito saber,
Mãe, conta-me como morrer,
Se melhor é no sono profundo
Ou de olhos bem abertos,
Despedindo-se do mundo;
Conta-me, conta-me como é o morrer...
Se é como o adormecer na noite,
Ou se é como o acordar na alvorada.

Mãe preciso, preciso saber
Como é o morrer, como é o caminho
De espinhos, como se chega ao tal portal
Da insondável eternidade; preciso
Saber se tu resististe ao teu fim,
Ou se ao contrário, tu ansiastes por ele.
Foi fácil? Foi difícil?
Ou simplesmente aconteceu?
Eu queria saber a morte
Antes de morrer, mãe,
Mas isto me é impossível vivo
E tu não voltarás para contar-me.

(De repente olho pela janela
E já é noite, o dia se foi).